Gilberto Melo

Ler contratos e entender os juros rendem alguma economia

Capitalismo, diz a Wikipedia, é um sistema econômico em que os meios de produção e de distribuição são de propriedade privada e com fins lucrativos. Entende-se, portanto, que as empresas capitalistas visam ao máximo de lucro. Então, para o consumidor, o dito popular “quando a esmola é muita, o santo desconfia” tem lugar de honra no enredo. E é preciso mesmo desconfiar quando as vantagens saltam aos olhos. 

Taxas de juro zero para compras em muitas, muitas prestações, títulos de capitalização difíceis de se entender, venda casada, cobranças indevidas em financiamentos (você leu as letras miúdas?) e, terror das noites, multa pesada pela perda da comanda. Todos esses itens podem significar perda de dinheiro para o consumidor. 

O economista e coordenador do curso de Economia da UVV, Mário Vasconcelos, avalia uma das armadilhas mais recorrentes, o parcelamento de compras sem juros. “Juro zero em compras no prazo não existe. É simplesmente uma jogada de mercado. A empresa pega o valor do produto, planeja a taxa de juro para, por exemplo, dez meses, pega esse valor final e divide por dez. O juro está incluído no preço sem que o consumidor perceba”. 

Os títulos de capitalização são outro problema. “Quem investe em títulos de capitalização deve levar em conta os impostos, a taxa de administração, a taxa de carregamento. Em alguns casos, o rendimento é menor até mesmo do que a poupança”. 

A diretora jurídica do Procon Estadual, Denize Izaíta, fala sobre uma outra questão que aflige o consumidor.  É a chamada venda casada. “Um problema atual diz respeito aos financiamentos de imóveis. Pelo banco são oferecidos cartão, vários seguros, são oferecidos também cheque especial, várias coisas. Mas temos também, no caso de eletroeletrônicos, o aumento da garantia, que é, na verdade, a compra de um seguro pelo consumidor. Vale lembrar que todas as formas de seguro têm que ser contratadas e acertadas previamente. Elas não podem ser impostas”.

Juro zero
Como funciona A clássica armadilha do juro zero pode até atrair os desavisados. Mas basta levar em conta que dinheiro custa dinheiro, para entender que é praticamente impossível você emprestar um montante a alguém e não cobrar nada por isso.  Uma boa recomendação dos especialistas é fazer as compras sempre à vista, quando é possível conseguir bons descontos. Quando isso não é possível, pesquisar e, claro, estar ciente de que está pagando juros. Não olhe apenas as prestações, mas o valor total da dívida. Lembre-se também de que os juros podem até ser zero, mas podem existir várias taxas incluídas no financiamento que vão encarecer, e muito, o preço final do produto.

Títulos de capitalização
Como funciona Os títulos de capitalização são mesmo uma incógnita. Vendido como algo rentável aos clientes e a possibilidade de ganhar altos prêmios, esse tipo de investimento pode esconder um verdadeiro ralo para seu dinheiro. Um levantamento da Exame.com aponta que algo em torno de 90% do valor investido no primeiro mês fica para o banco. Isso significa que 10% da primeira parcela do investimento será rentabilizada a favor do cliente. Nas outras prestações, a taxa é menor, mas mesmo assim bastante alta, se considerados outros investimentos. O Procon/SP orienta que “quem pretende adquirir um título, deve antes solicitar uma via do contrato e estudar todas as cláusulas com bastante atenção. O consumidor deve ter certeza de que o valor das parcelas não irá comprometer o orçamento familiar, e tirar da cabeça a ideia de economia ou investimento ao comprar um título de capitalização”. 

Cobrança de taxas indevidas em financiamentos
Como funciona As temidas taxas nem sempre estão claras ao consumidor. O levantamento da Exame.com aponta várias taxas que são cobradas de forma indevida pelos bancos, como Tarifa de Abertura de Crédito (TAC), Gravame eletrônico, taxa de registro de contrato, tarifa de avaliação de bens, tarifa de boleto bancário, serviços de terceiros e seguro prestamista.

Venda casada
Como funciona Disfarçadas como forma de oferecer vantagens aos clientes, as vendas casadas surgem quando o consumidor quer comprar um produto ou serviço, mas, para isso, precisa obter outro produto ou serviço. Segundo o Procon, o Código de Defesa do Consumidor proíbe essa prática. 

Multa em caso de perda de comandas
Como funciona Terror dos amantes das noites, a multa por perda de comandas ou tíquetes são consideradas abusivas. O estabelecimento é quem deve ter controle de tudo o que o cliente comprou ou consumiu, segundo o Código de Defesa do Consumidor. O Procon orienta que o cliente entre com uma ação judicial no caso de se sentir constrangido após perder uma comanda e ter que pagar bem caro por isso. Mas lembre-se de guardar o recibo do pagamento e pegar o contato de pessoas que presenciaram a conduta ilegal.

Autor (a): Fernanda Zandonadi
Fonte: www.gazetaonline.globo.com