Uma decisão proferida na 19ª Vara Cível de Porto Alegre está gerando dúvidas, críticas e apreensões de advogados que ontem (25) se dirigiram à OAB-RS em busca de “uma orientação para a categoria”.
Ao despachar em uma das muitas ações distribuídas ao Projeto Cadernetas de Poupança, o magistrado Pio Giovani Dresch refere sua constatação pessoal de que “mais de 80% das ações vêm com pedido de gratuidade judiciária, e uma parte muito significativa delas sem nenhum documento que comprove ser necessário o benefício”.
O magistrado relata que tal circunstância reduz a segurança na concessão do benefício, o que o tem levado “a um procedimento, inseguro e demorado, de análise dos poucos elementos existentes (endereço, profissão, escolaridade) e, numa parte dos feitos, à determinação de juntada de prova acerca das condições de renda”.
Prossegue o juiz afirmando que “nesses casos, o que tenho percebido é que, com excessiva frequência, a resposta ao despacho é o pronto pagamento das custas de distribuição”. Continua tratando de duas hipóteses: “ora, ou a pessoa necessita do benefício, e traz as provas da necessidade, ou não necessita, e aí não cabe o pedido”.
O magistrado refere que “não posso admitir como lícito que se consagre o hábito da tentativa, do´se passar, passou´, que parece ter se incorporado à prática forense, talvez mais por opção de alguns advogados do que por má-fé das partes”.
O juiz também registra “o óbvio, que não deveria ser lembrado: o sistema processual brasileiro prevê que o acesso ao Judiciário se dê mediante o pagamento de custas que viabilizem o funcionamento do sistema, e o instituto da gratuidade judiciária foi criado para viabilizar o acesso dos pobres à justiça”.
Avaliando que “com frequência crescente, o benefício se transformou de exceção em regra, assim desvirtuando o instituto”, o magistrado refere que “a própria Lei nº 1.060/50 prevê uma sanção a quem pede o benefício sem ter direito a ele, ao dispor, no art. 4º, § 1º, seja imposto à parte o pagamento de custas em valor que poderá chegar ao décuplo do valor original”.
Concluindo, o juiz Dresch escreve que, como meio de sustar a prática, “estabeleço seja a parte autora intimada a pagar o equivalente ao dobro das custas, o que significa que pagou até agora metade do devido”.
Sem meias palavras, o magistrado já antecipa que “em prosseguindo a prática, passarei a fixar valores superiores”.
E, no fecho, manda intimar “a parte autora, para que complemente as custas em 30 dias, sob pena de cancelamento da distribuição”.
Da decisão cabe recurso de agravo de instrumento ao TJRS. (Proc. nº 10900331880).
Fonte: Espaço Vital